quarta-feira, 26 de abril de 2017

Será transparente a janela ou é um vão na parede?

Haverá essa camada fina de vidro
Entre a escuridão da noite
E a segurança das paredes brancas e frias?

O que separa os ruídos noturnos
Da textura do coração
Ou da densidade da alma?

Foi o sonho ou o silêncio
Que disse que era sutil sopro de vida
E não ausência?

Era uma borboleta que entrou na tarde de sábado
Sem pedir licença,
Que manteve suas asas abertas
Enquanto pousada
Num canto qualquer da casa;

Era ela que convidava medo e encantamento
Para comparecerem na mesa da cozinha,
Que encontrava lugar no mesmo cômodo
Habitado pelas teias de aranhas que teciam solidão,
Que tinha o jeito inusitado
De ousar pronunciar receio ou estranhamento;

Era uma borboleta a tatuagem no peito coberto de pelos dele
Que flertava com os vãos entre as grades;

Que sonhava em se atirar lá do alto,
Direto na água,
Para que a correnteza cumprisse
O seu destino na pele dele;

Ossos,
Boca,
Vestígios de esperança;

Eram as sobras de sua existência
Que desafiavam a solidão em sua cela,
Na masmorra,
Na penitência,
Na ilha envolvida pelo oceano;

Era uma borboleta no peito da garota
Com a camiseta cor de framboesa;

Ela que devorava vertigens,
Que tinha planos de fuga,
Que parecia um camaleão,
Que esculpia sonhos na masmorra ou na penitência,
Naquela ilha coberta de pelos no coração
Da borboleta que habitava o peito dele,
Penitente,
Prisioneiro,
Confidente das teias de aranhas
Que teciam os ruídos noturnos
Na textura de sua alma;

Existe ela, a densidade, na camada fina do silêncio?

Era o toque de suas mãos ágeis na madeira da porta?

O teu punho que atravessa,
Teus dedos que expremem,
As batidas que escorrem pelos tendões a nu,
Teu corpo desvelado:
- Vísceras,
É o que temos para o jantar.

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