O
cidadão médio
Deseja
que a média equacionada
Indique
Qual
o caminho da tranquilidade,
A
possibilidade da curva,
Ou
a eminente tangência;
O
cidadão médio teme
Que
os pontos fora da curva
Sorriam,
Felizes,
Como
bigatos,
Vermes,
Brotando
em sua comida,
Destemperada,
Gelada;
O
cidadão médio
Manteve
em segredo
Que
sonhou que aquela cineasta romêna
Invadiu
a sala de sua casa,
Tomou
de assalto
A
tela de sua televisão
Numa
tarde de domingo;
O
cidadão médio
Não
deixa que percebam
A
sua mão trêmula,
Ou
o medo epifânico
Que
a pobreza,
Ou
miséria,
Alcance
a sua existência,
Ou
seja esmagado
Pela
riqueza absoluta;
O
cidadão médio é uma ficção,
Um
exercício de abstração,
Para
que sejamos convencidos
Que
não existe vida
Nas
entranhas da multidão;
Para
que nossos olhos permaneçam calados,
Conformados
com a paisagem urbana,
O
ritual cadavérico
De
uma morte homeopática
Anunciada
e aceita
Em
toda hora,
Em
cada dia,
Como
a certeza da eminência
Da
próxima estação
Ou
temporada;
O
cidadão médio é a confirmação
Que
haverá trilhos para o próximo vagão,
Asfalto
para as velocidades eletrizantes,
Para
que cada indivíduo
Seja
consumado pelo inevitável fluxo,
E
a personalidade viva,
Inquieta,
A
singularidade subversiva,
Pulsante,
Seres
mutantes,
Sejam
apagados da memória;
O
cidadão médio é uma ficção
Que
acordou assustada
Com
a possibilidade da revolução
Que
brilha dentro de cada epifania,
Que
é mantida acesa
Entre
o olho cansado
E
o olhar atento,
Que
não pode ser esquecida,
Ou
apagada
Por
esse metabolismo mercadológico,
Cotidiano,
Que
devora vidas
E
assopra fantasmas;
Há
efeitos colaterais,
Vestígios,
Estranhezas
imponderáveis,
Belezas
que não podem ser tangenciadas,
Ímpetos
que tomarão de assalto
A
tela,
A
televisão,
A
média,
A
equação,
A
queda
E
o cidadão,
Para
lançar em perspectiva
Existência
pulsante,
Inquieta,
Mutante,
Subversiva,
Nova
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