sábado, 13 de maio de 2017

Que a existência se acabe no meio da rua,
Lá, onde a flor de Drummond nascerá,
Onde é possível sentir o enjoo e a náusea;

Sim, caríssimo poeta mineiro de Itabira,
Aqui, no norte do Paraná,
No interior do estado de São Paulo,
Ou na fronteira com o Mato Grosso do Sul,
Estou preso a minha classe;

Mesmo o coração,
Com todo o seu vermelho,
Hoje pulsa na balada daquela canção,
Está sintonizado com a antena da televisão,
Mergulha na frequência da última estação de rádio;

Essa onda que bate na minha pele,
Que embala o corpo,
Tão cedo abandona o estado onírico
Como aquele presidente chileno suicidado em setembro de 73;

Agora é o vermelho na camiseta,
A barba insistente que encobre a cara,
A boina que na cabeça molhada
Acena uma bandeira Guevara,
É o Kit revolucionário que não abala a estrutura;

A poesia permanece tecida sobre o balcão
Com o sabor amargo do café que digere o estômago,
E da cerveja gelada que nos encaminha
Para o lençol camuflante desta madrugada;

Será a pele, nua, que na gota de suor encontra oceano,
Será aquela palavra dura que traga realidade
E suspira doce no ouvido
A ilusão futurista de mais uma saudade;

Já não é sangue em nossas veias
Que nos encaminha para o próximo vagão do futuro,
É a cachaça, a cocaína e a cafeína
Que expressam para nós a possibilidade de ânima;

É a alma corroída
Que cegou sob a luz divina
E flertou com o rio que atravessou o inferno,
Abalada, jazz o blues,
Amanhece com Cartola em seu colchão furado,
Erosivo,
Que esculpe versos onde a existência
Da marcha samba de escola
Já não pode penetrar;

Haverá entre os dentes desta engrenagem
Arestas para as serestas,
Sonhos moídos, triturados, que renascem nos poros do pandeiro,
Na vibração das cordas do violão;

É couro,
É madeira,
É a gaita que acentua a solitária caminhada,
É choro;

Salve Ernesto,
Salve Pixinguinha,
Raul Castro Gabriel Seixas,
Salve-se quem puder,
Que a vida é cheia de andanças desatinadas;

O farol amarelou,
O sinal abriu,
Abre alas na malha rodoviária,
Espalha-se no tráfego,
Atravessou o vidro, retrovisor;

O sinal emerge do mormaço do telhado,
Não das tendências da lua nas ondulações marítimas,
O acidente é a confirmação
Que quem nos leva não é o pulsar das veias,
Ou a batida do coração,
É o assalto da nossa existência
Que anoitece neblina
E arranca o nosso pulmão na direção do gol;

No fundo da rede o brilho esgotado
Da última trapaça,
Do nosso tango;

Da dança que dança os dedos
Nessa trama cotidiana.

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