sábado, 13 de maio de 2017

Amigos(as), 
Quero falar do lançamento do Gerson, 
da saída pela linha de fundo do Garrincha, 
do calcanhar, não o de Aquiles, 
mas o de Sócrates, 
aquele da democracia corinthiana.

Se me permitem,
não quero falar do futebol e seus cartolas imundos
que merecem, no mínimo, uma bala de canhão.
Pretendo lembrar as marcas dos sonhos que não conheceram a luz do sol.

Conheço amigos que utilizam as lentes de suas câmeras,
ou o fraseado do trompete,
para falar delas, 
as feridas e as asas, 
a saudade e a esperança;

Usarei essas palavras para falar 
que não há imperativo categórico, 
ou histórico, 
apenas os dentes, 
mais de trinta e dois, 
dessa engrenagem, 
que trituram e mastigam a epiderme, 
nossos corações.

Há o desespero que interrompe o silêncio numa chama de medo.

É sempre bom lembrar, como os mestres Guimarães e Belchior ensinaram, 
a vida é um negócio muito perigoso:
-"O que é que pode fazer um homem comum
neste presente instante
senão sangrar
tentar inaugurar a vida inteiramente livre e triunfante?"

A utopia é a nossa morada, 
mas não aquela que desconhece a neblina enraivecida
que nos envolve todos os dias.

É o lugar que iremos erguer com aquela pedra no meio do caminho.
É aquela felicidade que não pode ser engarrafada 
para camuflar o semblante da tristeza.

É aquela força, 
feita de mãos dadas, 
que nos emancipa.

É aquele amor
que nos leva para além do horizonte, 
não é feito de grades, 
não é feito de temor e insegurança.

Amigos(as), 
sonharei com os olhos abertos, 
porque não há loucura maior do que a lucidez.

Seguirei com as paredes rachadas e o coração trincado.

Não confio na estabilidade, 
na tristeza amena e justificável, 
em quem se esconde
em baixo de sua cama de ferro
com medo da solidão.

Não confio nas multidões e nos seus movimentos rodopiantes.
Confio nas individualidades trágicas, 
porque a nós só resta fazer o irrealizável, 
impulsionar a trincheira para além das possibilidades.


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