sábado, 15 de setembro de 2018


A poesia é coisa de homem,
a poesia é coisa de mulher,
a poesia é coisa de gente,
a poesia é quando a gente
não encontra um nome.

Um nome não basta.

a palavra dada
não é a mesma
que a palavra querida,
amada.

A poesia é coisa de criança,
a poesia é coisa de gente velha,
a poesia ainda não amadureceu.

A poesia chutada
descobriu que existe chão,
queda
e gravidade.

A poesia é coisa de gente
que anda
com uma,
duas,
três,
quatro rodas.

A poesia é coisa de gente
que anda
pela pele,
pelo mundo.

A poesia é coisa
de quem anda
às próprias custas
S/A.

A poesia é aquela
que por se chamar coisa
é tanta coisa
e coisa nenhuma.

A poesia é aquela coisa
que fizeram comigo.

É o tapa,
é o olho no olho,
é marca de sangue no chão,
é a bala disparada,
a vida em disparada,
a bala fria guardada.

é o cano da arma
colocada
dentro da boca.

É o coração caído,
é o dente partido,
o passado perdido,
é o sorriso não contido,
descontente,
desafinado,

como um elefante
numa pista de gelo,

como um anjo
catando pedaços 
de suas asas
dispersas
entre o coro,
a cena,
o placo
e a plateia.

A poesia é quem fiz
da minha vida.

A poesia é a coragem
de sentir medo
e encanto
por não saber
qual destino
me abraça
no labirinto
que me aguarda
na próxima viagem.

A poesia é a estrela
encontrada
no meio do caminho

entre a boca,
o remetente,
a mensagem
e o destinatário.
A poesia desafia a rima,
a poesia não tem rima,
a poesia rima
com cada silêncio
sentido
nos poros e ecos
dos subterrâneos cutâneos.

A poesia é coisa
de quem morre hoje.

de quem morreu
na semana passada,
na sexta-feira passada,
no ano passado,
na vida sem passado.

A poesia é coisa
de quem acorda
como se acordasse,
despertasse,
pela primeira vez,

para renascer tanta poesia,
tanta poesia,
tanta poesia,

que segue sendo
quem é.

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