terça-feira, 16 de outubro de 2018

Preciso distrair
entre o emaranhado
dos teus cabelos.

Há um brilho,
um convite luminoso,
entre teus pelos.

A retina
já não sabe
se é a luz do sol
que derrama o dia
sobre as nossas vidas,

ou se é o encontro
entre o caminho
dos olhos,
olhares renascidos,
na travessia
entre a minha boca
e a tua.

Deixo os dedos
perceberem o quanto,
o tanto,
são miúdos

na profunda
e intensa
superfície
da tua pele.

Pegadas traçadas
no desenho
da paixão futura
dando vida
ao desejo presente.

Semente.

E você me diz
que são feridas,
você diz
não saber
se já são
cicatrizes,

as trilhas abertas
pelos dedos e unhas
amantes,
agora submersas
em paixões pretéritas.

Corpo tem memória.

Meu corpo imerso
na rede moinho
cutânea toda sua,

no seu jeito
de ser lagoa,
enquanto
o cheiro do café
penetra as narinas.

Essa é a nossa manhã.

Um lance,
um caso,
não só acaso.

Uma jogada de azar.
Toda a nossa sorte
lançada.

Não me atire
ao sabor da neblina
as palavras tocadas
pelo encontro
entre a tua beleza
e os olhinhos aprendizes
da poesia tecida errante.

Me retire
o peso
de todas as minhas
feridas e cicatrizes
vividas.

Me atire
ao encontro
entre as pegadas deixadas
no teu coração
e o céu da tua boca.

Aqui estão
as tuas asas.

Vou deixar as janelas
e portas abertas
para que você viva,
possa viver
e deixar viver

festas
e setas
e frestas
e odisseias.

Talvez um dia voltar.

Talvez em um segundo só
me levar contigo,
me levar para longe
dos afetos mal vividos.

Me levar para dentro
das ondas cálidas
transbordando
oceano.

Nascente
de paixão
e desejo.

Jeito
de tecer
e fazer
gente.

Corpo.
Semente.
História.
Nascente.

domingo, 14 de outubro de 2018

Para que tão pouco pé
se o passo é
para adiante?

Por que a face
termina na orelha
se o sorriso é largo
e não cabe nos lábios?

Se o brilho nos olhos
é tamanho imenso horizonte,

E os olhinhos,
ainda que pequeninos,
Espiam por toda
e qualquer fenda.

Os dedos não cabem
na mão,
A mão alcança
o que está
além do corpo.

E todo mundo envolvido
nessa dança
De ser criança,
De ser além,
De não estar aquém;

Porque se existe
tanta vida
que cabe
naquela vida,

não dá
pra deixar o leme
a mercê
da tempestade.

É a mão
que alcança
o próximo ciclone,
a próxima correnteza,
na direção
de uma revolução.

E de tantas revoluções
se faz um coração.

Um dia
o menino aprende
a amar
amando.

A ser alegre
semeando,
a não temer
a tristeza.

E deixar cada ferida brotar.
E depois amputá-la para fora.
E plantar nova raiz.

Sentir crescer nova vida.

Vida nova,
pequenina
e tão imensa,
engravida
a nossa vida
de sonho
e horizonte.
Acho que é vida
que me pega
distraído.

Acho que é desejo
e agora sinto medo
de alimentar o desejo.

Já não sei
o que faço
para me livrar
desse embaraço.

Desatar sonho vivo.

E o coração atraindo.
E o coração atraindo.

Sinto a pele...traída.

Será por essa veia,
ou por aquela artéria,

o futuro
que me abraça

no sinal aberto,
no sinal...aberto.

no sinal...
A expectativa
não me sacia,
me desafia,
me atira
ao abismo. Encruzilhada.

Antecipar o destino
ou dar a volta
na esquina
da casa
desbotada.

Devorar
ou ser
consumido
pelo próprio
desejo.

Atropelar
ou viver
o tempo.

sentir o tempo,
viver o vento.

A brisa noturna
que me atravessa

as janelas
grandes e
abertas.

O sopro da vida,
o sopro da gente,
o sopro da saudade.

O abismo,
vão,
espaço intervalo
futuro

nas camadas
de teus lábios,
entre os lábios
que se encontra
a língua.

A tua língua,
o meu desejo.

Desse jeito
meio sem
jeito
de saber
se é antes do fim,
se é depois do começo.

Memória.
Reconheço.
Recomeço.
Sonho. 
Esqueço.
Volto já.

Início.

Prelúdio.

Nova história.

Mergulho inteiro.

Toda você
em
mim.
Naquele dia,
em que o tempo abriu.

Era quase rima,
era quase música.

Era como o tempo,
em que
qualquer sina
seria a manhã
desenhada
por essa mão.

Podia sentir o músculo,
descontraído,
renascido,

enquanto avançava
entre miúdos fragmentos
de sol
que me tocavam
os punhos
para que eu pudesse
abrir as mãos.

Sentir escorrer pelos dedos
cada gota de penumbra
que se dissipava,

como a neblina
da solidão noturna,
como as nuvens carregadas,
sombrias,
que sempre anunciam
a tempestade,
a correnteza,

cediam ao sol
que irradiava a manhã,
o horizonte.

Que iluminava as arestas,
as fendas,
a vida fecunda
de alternativas oníricas,
de novas possibilidades
de existência. 

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Esse tecido
tem sido
tecido.

textura costura cultura na dobra.

Borda

o futuro
que sonho
ter sido
amanhecido
na malha.

Rede. Abrigo.
Colcha de retalhos.

Carinhos
e afetos
e ninhos
e desertos
e vestígios
e vertigens
e afagos,

trançados.

Transeuntes,
emaranhados,
refugiados,
viajantes,
amantes,
passageiros,

naufragados.

Emergirão...agora.

Isso esse essa
SÃO

Lágrima,
mesmice,
álibi,
senhas,
labirinto,
boca do abismo,
fendas

e tudo isso
é tanto
e mais

coração.

 dentro da caixa  tem lápis de cor fora da caixa  existem cores  no céu na água do rio  na onda do mar  no arco-íris  no brilho  da íris  de...