sábado, 10 de novembro de 2018


Daqui a pouco
vai cair
a chuva

sobre os tetos
e as marquises.

Máscaras,
faces e caras
manchadas,
borradas.

Entre passarelas,
nas vielas,
por entre sarjetas
e nos becos

vai cair chuva.

Uma rachadura no alto,
bem alto,
acima dos arranha-céus,
dos prédios
e das casas.

Nuvens trincadas.

E antes da água
derramada,
o estrondoso barulho
do trovão.

Parece a tempestade
vivida,
sentida,
no músculo vermelho
coração.

Vai cair chuva,
não importa
se anda por aí
distraído.

Se quando atravessava
aquela esquina,
acreditava
que podia alcançar
o outro lado
da cidade.

Aquela borda na região sul,
a outra mais ao norte,
leste e oeste,
também,
transbordam.

Nenhum rio pode ser silenciado agora.
A onda do mar alcança o asfalto.

O oceano encontrou a força
que a gente buscava
para fazer a mensagem,
esta mensagem
e tantas outras
encontrarem a margem. Beira de um continente:

- uma imagem do horizonte
submersa na neblina
agora tocada pela água.

Cores que os dedos
sonhavam tocar
escorrem
entre raízes,
plantas.

Levam consigo
grãos de terra.

A lama brota,
a lama convida,
a lama envolve.

E a barba
e o cabelo
e o vermelho
desbotado
dos lábios.

E as pálpebras
e as veias
e a pele

mergulhados
na lama.

Uma substância outra,
viscosa,
densa,
aberta,
de textura sentida
a olho nu.

Viscosidade atravessa,
conteúdo imanente imerge,
avança,
desata
pedaços do céu
agora beijados
à luz da lua. Deixados à atmosfera serena da madrugada nas horas insones
que anseiam,
espiam,
feixes luminosos,
dourados,
que anunciam
a ânima
de viscosa
e aberta
vitalidade.

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