deixo cair
no espaço
entre uma mão e outra
a imagem do teu sorriso.
É um rosto,
não é uma fotografia,
é um instante
em que sonho,
não é o segundo
plantado
no meio,
em cheio,
do dia
em que tua mão
agarrava
o espaço em vão
em que minha mão
te alcançaria.
Não é um espaço,
é uma hora a menos,
uma hora a mais,
uma hora tardia.
Já não posso
com esse compasso
da vida
em estado de espera.
Não sei se
avanço o sinal
ou aguardo
a velocidade do passo
que me atropela.
Fiquei a um passo
para trás
quando você bateu asas
e agarrou
aquela nuvem
que se parecia
com a face
engrandecida
quando um sorriso
emergia.
Acho que já não é
o som da tua voz
que escuto
quando sinto a onda
que vibra
entre a aurora
e a tarde que cai.
Palavras trincadas
entre dentes brancos
em sorrisos congelados
eram quase ânima,
quase um estado
de alegria.
Tuas palavras,
cada sílaba declinada.
Hálito pálido.
Branco ao redor.
Vermelho da boca.
Marcas cutâneas
da tua excreção,
dançam com você,
mergulham com você,
brincam com você,
choram com você
quando teu corpo
atravessa a superfície
daquele lago.
Teus dedos ainda resistem
a tocarem fundo,
a tocarem o fundo.
Estou a uma braçada
atrasado,
estou a uma pedalada
antes
que o sinal
esteja fechado.
Você lembra?
Teus pés bailavam
quase engraçados
como elefantes
em um pista de gelo...
...no teto,
na beira do arranha-céu.
Dar o salto,
bater asas,
ou saltar
e deixar
a superfície da água
tocar as bordas ao redor
enquanto o corpo atravessa
a densidade aquática.
Já não era teu rosto,
nem reflexo,
ou mero sorriso,
quando despidos
de trajetórias pretéritas,
de futuros
que não eram nossos,
deixávamos nossos corpos,
nossas peles,
entregues
à profundidade do lago
que devorava
nossa eternidade
e nos assoprava
breves,
lábeis,
efêmeros,
no horizonte que morria
quando o próxima dia
resplandecia claridade.
E o tempo avançava.
Nenhuma hora a menos,
nenhuma hora a mais,
de passagem,
ou atrasada.
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