quinta-feira, 21 de março de 2019

Quanto tempo 
até a chuva 
alcançar o meu telhado?

Quanto tempo 
até as gotas de água 
geladas 
baterem na soleira da janela?

Eu sei quem é ela, 
mas eu não tenho 
uma resposta para isso. 
Eu nunca tive 
uma resposta para isso. 

Sim, 
eu sei 
que o frio é meu amigo, 
que o carinho gelado 
de uma noite fria 
foi o melhor companheiro 
enquanto as horas escuras 
- transitivas – 
avançavam. 

E o céu azul e claro...
...cada vez mais distante, 
e o nascimento do sol...
...cada vez mais distante. 

Naquele tempo 
quando não havia semente, 
quando não havia horizonte, 
quando a única beleza 
era o reflexo 
de alguma estrela dourada 
em um espelho partido. 

Vou assoprar 
para junto da poeira 
o que o seu olho 
podia tocar. 

Vou deixar ao chão, 
no solo, 
o vestígio dessa face 
misturado 
ao calor do sangue.

E cada gota de chuva 
agora brinca 
com esse vermelho 
derramado
na sarjeta, 
bem ali, 
à beira do asfalto. 

Uma onda do mar
caída do céu
lava. 

Leva 
para de baixo 
e das ruas 
e do asfalto 
esse pedaço meu, 
esse pedaço seu, 
esse que ficou 
quando caímos. 

Quando o nosso corpo envergado
e a nossa alma ferida. 

E tudo que ouvimos
foi o movimento 
do nocaute 
sussurrar
em nossos ouvidos:

- fique bem aí 
nesse chão frio, 
gelado 
e molhado. 

Amanhã, 
quando o calor sereno 
da manhã
tocar suas pálpebras 
você poderá 
abrir os olhos 
e se levantar. 

Um passo de cada vez, 
depois de um 
vem o outro, 
e assim você sabe 
como terminar 
o dia 
que se aproxima. 

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