sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

já não sei 
qual palavra rima, 
me interessa
a que acentua, 
aquela 
que amplifica...
...não a corrida, 
mas a busca 
por profundidade, 
pelo ímpeto 
que quebra linhas, 
ultrapassa barreiras, 
e nas fronteiras 
encontra potência 
para que a gente
não morra. 

para que a vida 
não esteja reduzida 
aos limites 
das trincheiras, 

porque do lado de cá 
apostar na força 
da masmorra 
é lutar contra 
a intensidade oceânica 
na procura de guarida 
em castelos de areia:

- cada grão 
pode ser tragado 
pelos movimentos 
de partículas aquáticas, 
marítimas. 

o poeta já cantava 
que a mão 
que se ergue 
no arauto da batalha, 
na comemoração 
pela rede estufada
pela bola 
de arremate certeiro, 
encontra força 
no desejo compartilhado, 
no encontro 
entre a superfície, 
a beira da digital, 
e a imensidão 
do universo 
da pele alheia. 

me interessa 
a palavra nova, 
inquieta, 
vibrante, 
que desafia a rima, 
que acentua, 
que amplifica 
verdades libertárias. 

ela, 
que despida 
da condição de musa 
encontra agora 
nova rota
na tessitura 
da poesia, 
que seja elogio à liberdade, 
que seja expressão 
da vida vivida, 
da violência 
que se anuncia, 
sabe 
que interessa de onde, 
de qual boca, 
de que fundo
de coração, 
da ponta de qual língua
é dita a palavra, 
que é um grito
muito mais 
que uma guerra, 
que é um sussurro 
já conhecedor 
dos caminhos tecidos.

pelos dedos 
e pela língua
e pela cintura 
já conhece dor. 

é uma palavra, 
tantas, 
um grito, 
um sussurro, 
um silêncio 
que acolhe, 
abriga em si, 
o que é próprio
das rupturas, 
das irrupções 
que além 
de inflamadas 
se erguem 
contra o abismo, 
o destino já conhecido, 
o mecanismo da inércia 
e das engrenagens.

irrupções, 
passos, traços e contornos, 
ponderações 
de uma nova viagem 
que se funda 
na verdade futura 
que emancipa, 
que liberta, 
que dissipa 
qualquer vestígio pretérito, 
aterrorizante 
e fantasmagórico, 
limitante 
da possibilidade de ser mais 
que palavras ditas, 
entregues, dadas, 
ou queridas, amadas. 

sejamos mais:
- lábios, 
bocas, 
dentes, 
línguas 
e desejos 
no horizonte inseguro, 
turbulento e bravio 
que nossas odisseias 
buscam encontrar 
para que não sejam 
egoístas 
nossos amores e paixões. 

para que cada sentido, 
sentido dado, 
sentido construído, 
invenção, 
seja abraçado 
como potência 
de uma vida 
menos bruta, 
menos miserável, 
menos capital, 
mais canal 
e amplificação 
do que é ser gente, 
ser semente, 
ser sendo, 
ser vida humana.

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