Não quero ser o herói
do futuro vencido,
do passado vencedor,
do presente esquecido.
Não quero vestir a cor
da bandeira que silencia,
da marcha que atropela,
de tudo
que ordena e encerra
a poesia.
Desejo a boca, a língua;
os poros, a pele;
os pelos, a textura...
...nus,
nuas.
Despidos
das marcas
de balas
cravadas.
Libertos
do açoite
e das feridas
coloniais.
Quero
no músculo do peito
e bem dentro dele
a marca e a tinta
da ternura afiada
e umedecida.
Quero
no espaço,
na passagem
e intervalo,
entre um músculo
enervado e outro
o calor do carinho
que destrava,
abre
e liberta.
Quero
no abraço
me livrar
da amarra
e do laço.
Deixar me perder,
estar imerso,
na força
que está
e me leva
além,
como já dizia o poeta.
E te quero junto
no próximo passo,
nessa dobra do tempo,
nessa borda amante
do carinho das águas.
E te quero junto
para além do medo,
pela travessia noturna,
no desabrochar
e endoidecer
da esperança matutina.
E te quero
para aprender a dizer,
para aprender a ouvir,
para aprender a nascer
outra vez,
novamente,
como se fosse o começo,
como se a gente
começasse agora.
Pé.
Mãos.
Cheiros.
Olhos.
Bocas.
Dentes e língua.
Desejo que seja,
grito que esteja,
lágrima que transborda,
riso que convida,
brilho que acende
uma mão na outra,
uma mão pela outra.
Nesse caminho que seja nosso.
Com a nossa cara.
Nosso corpo.
Nosso jeito.
Nosso carnaval, alegoria.
Nossa vida em germe.
Nossa semente.
Nosso futuro.
Nossa liberdade presente.
quarta-feira, 19 de junho de 2019
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