sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Saber que você esteve aqui
ainda é o melhor caminho
para que eu queira saber
por onde andei.

Em que lugar
coube a minha presença
quando este móvel
mudou de lugar.

Eu sei onde ele estava,
eu sei onde você estava;

porque ficou essa marca,
esse miúdo contorno de poeira.

porque ficou esse jeito mágico
de deixar rastro.

Cada migalha de alegria,
cada vez que irritava
um gesto egoísta,
ou uma mania.

Cada vez que eu podia
sentir a densidade do ar
no teu jeito
de curtir o silêncio,
cozinhar o silêncio,
tecer que ele estivesse

em todos os cantos da casa,
de baixo do tapete,
no intervalo exato
entre o móvel e a parede.

Por que romper o silêncio
quando você não está?

Quando me recolho para dentro
desse lençol,
dessa coberta,
me encoberto de sonho

porque não quero estar
em todos os lugares
em que você não está.

Quando tudo
de novo é,
como antes
talvez não existisse,

um canto reduzido
bem no vermelho
da superfície desse lado,
aquele mesmo da mordida,
do teu lábio
que conhece o gosto
do jeito que gosto.

Do jeito que mora
do lado de dentro
da tua saliva
a palavra,

que antes não sabia,
desconhecia dela
a potência de poesia.

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