domingo, 23 de abril de 2017

Palavra,
Qual substantivo?
Será adjetivo
que revela qual lugar
ocupa no mundo?

Já não é reconhecida,
A boca
Que a proferiu,
É uma,
Entre tantas,
No meio da confusão;

Palavra tão pensativa,
Talvez não fique tão bonita;

Entre o ser e a possibilidade,
O destino e a eternidade,
Futuro,
Máscara já corroída,
Passado ainda transpira,
Sente os ecos da memória,
Será que sente
O movimento da história?

Palavra encharcada,
Manchada,
Amassada,
No guardanapo,
Dentro do envelope,
No balcão,
Na padaria,
Na mesa do café da manhã;

Quer ela remendada?
Prefere ela esculpida?
Pintada?

Palavra afiada para dar o nó,
Para atingir a superfície do músculo,
Aflita,
Como navalha no olho
Filmada em composição surrealista;

Palavra enervada na cabeça,
Maltrapilha,
Acelerada,
No pulso,
Artéria,
Cor,
Ação,
Enuncia sem querer,
Querendo,
O atraso,
A ruptura da calmaria,
A lentidão inconveniente,
A pertinência incongruente;

Palavra derramada sobre os jornais,
Palavra revista como se entrasse no mundo recém-nascida,
Emprestada de outro idioma,
Pensada ou sugerida
No olhar desviante e transeunte;

Caminhante nas curvas da saliva,
Alojada no canto do ouvido,
Repetida, repetida,
Até que inaugure novo sentido,
Cantante quando juntada com outra,
Linda em sua resplandecente singularidade;

Tão diversa e múltipla,
Tão pequena e singela,
Telefone sem fio,
Os créditos acabaram antes do teu possível discernimento,
Será que foi essa a palavra dita?
Será que foi esse o maravilhoso palavrão?
Serão as palavras grandes de Caio Fernando Abreu?
As mitologias de Willian Blake?
As pedras inesquecíveis do poeta mineiro de Itabira?

Sim,
Pergunta levantada pela Clarice,
Indigesta e percebida pelo Guimarães Rosa,
Tão óbvia que foi esquecida,
Ressaltada pelo Nelson
Para que nossa noite não abrace a tranquilidade,
Para que os sonhos possam tocar a retina,
O preto e o branco dos olhos;

Para que o monstro que dorme em baixo da cama,
Seres felinos que saltam nos telhados,
Ecos e barulhos não convidativos,
Possam ser reconhecidos
Como o estranho que veste essa roupa,
Abre a porta,
Salta rua afora,
Insiste calejado pelos caminhos desvairados
Que sempre invocam mais
Do ser

Que ainda não é 

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