quinta-feira, 15 de novembro de 2018

O fogo em breve brasa.
cor bonita que ilumina,
cor bonita que aquece.

Toca o preto
e o branco
dos olhos
lançados
ao longe.

Chamas crepitam gravetos
e o músculo do peito,
e os braços comovidos,
envolvidos,
no abraço
da noite quente.

Há força em cada mão.

Há possibilidade
sobrevivente
do toque
no gesto latente
em cada dedo
e na palma da mão.

Encontrar uma faísca,
uma fagulha,
uma esperança,
por tão miúda,
por tanta dor,
por tão acesa,
por tanta vida
que a gente seja.

Que a gente aprenda
que a chama bonita,
viva,
que aquece o peito,
o desejo dos olhos
de tocar horizonte,
o sonho que insiste,
resiste,

Vem de dentro,
vem da gente,
vem da nossa dança,
da nossa caminhada conjunta.

Do encontro
e do afeto
entre uma vida
e outra
e outra
e a tua
e a minha
e nossa...nessa ciranda. Trilha,
em que a gente sente

o gosto do vento
tenro e sereno
que nos atravessa
e nos leva

ao destino trançado
por miúdas fagulhas,
faíscas,
centelhas,
de esperança.

Mais vida,
tanta vida,
nova vida,
a ser tecida. 

sábado, 10 de novembro de 2018


Daqui a pouco
vai cair
a chuva

sobre os tetos
e as marquises.

Máscaras,
faces e caras
manchadas,
borradas.

Entre passarelas,
nas vielas,
por entre sarjetas
e nos becos

vai cair chuva.

Uma rachadura no alto,
bem alto,
acima dos arranha-céus,
dos prédios
e das casas.

Nuvens trincadas.

E antes da água
derramada,
o estrondoso barulho
do trovão.

Parece a tempestade
vivida,
sentida,
no músculo vermelho
coração.

Vai cair chuva,
não importa
se anda por aí
distraído.

Se quando atravessava
aquela esquina,
acreditava
que podia alcançar
o outro lado
da cidade.

Aquela borda na região sul,
a outra mais ao norte,
leste e oeste,
também,
transbordam.

Nenhum rio pode ser silenciado agora.
A onda do mar alcança o asfalto.

O oceano encontrou a força
que a gente buscava
para fazer a mensagem,
esta mensagem
e tantas outras
encontrarem a margem. Beira de um continente:

- uma imagem do horizonte
submersa na neblina
agora tocada pela água.

Cores que os dedos
sonhavam tocar
escorrem
entre raízes,
plantas.

Levam consigo
grãos de terra.

A lama brota,
a lama convida,
a lama envolve.

E a barba
e o cabelo
e o vermelho
desbotado
dos lábios.

E as pálpebras
e as veias
e a pele

mergulhados
na lama.

Uma substância outra,
viscosa,
densa,
aberta,
de textura sentida
a olho nu.

Viscosidade atravessa,
conteúdo imanente imerge,
avança,
desata
pedaços do céu
agora beijados
à luz da lua. Deixados à atmosfera serena da madrugada nas horas insones
que anseiam,
espiam,
feixes luminosos,
dourados,
que anunciam
a ânima
de viscosa
e aberta
vitalidade.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018


dentro
da palavra
que tá
dentro

Cotovia,
via,
envia
sorriso largo.

Embarco no arco soterrado.
Aterro do desejo.

Cheiros
que emergem
entre escombros
convidam.

Embarco na viagem
que me alcançou
sem pedir passagem.

Perco-me pela via
um dia vivida.

Via
alegria tocada
pela manhã dourada
na casa velha
em que a gente
se abrigava.

Abrigo trêmulo.
Abalo sentido.
Afeto.

Afetação.

Se tocar
pode ferir,
você dizia:

- se tocar
pode se abrir

uma pétala,
uma vida,
uma via
que a pele ainda
não conhecia.

Você me dizia,
me tecia,
enquanto a gente sentia
uma fenda
que desabrochava
do outro lado. Verso da epiderme.

Germe de paixão
derramada na mesa
do café da manhã.

Carinho cálido
na cotovia
do coração.

Pretos cabelos,
fios,
emaranhados,
envolvidos
na face branca
e rosada.

Olhos de coruja
que me despertavam
o toque,
a mão,
do mergulho
na escuridão.

Azuis,
a sós,
nós,
tocados
pelo feixe lunar
que atravessava
vidros e paredes
e janelas
para iluminar
a intersecção de almas
no lençol velho
que acariciava
a ponte quente
que emergia
do toque vivido
por tanta alma.

Tanta chama.
Tanto desejo.  

E eu
e você
e o tempo
e a hora tardia.

Instante.
Já se vai,
esvai.

Pétalas murchas,
ou possibilidade
de semente.

Cinzas entregues
antes
de recomeçar
o tempo presente.

A paixão pretérita
que germinava
poesia futura.

Poesia agora.

 dentro da caixa  tem lápis de cor fora da caixa  existem cores  no céu na água do rio  na onda do mar  no arco-íris  no brilho  da íris  de...