Seria prudente
não pensar em ti
agora que você deixou
a porta meio aberta
e me disse
para desenhar a partida
sem a meia volta.
Seria uma providência
não agitar a consciência
com as pausas
e reticências
que habitam o intervalo
entre uma palavra e outra
dita pela tua boca,
escrita pelo encontro vivido
no caminho
entre um dedo e outro.
Seria coerente
nesse compromisso
com o tempo presente
não ter a alma
e a carne dos lábios
despertas
pela tua imagem
que me visita
quando as pálpebras
estão fechadas.
Ou quando entardeço
com os olhos encantados
pela poesia que toca
a esperança incongruente,
impertinente,
que permanece acesa
dentro do meu coração.
Seria assertivo
não rever
pontos e signos
em busca de algum sentido
submerso
nas mensagens enviadas,
compartilhadas,
trocadas.
Seria calmo,
tranquilo,
quase normal,
não ser envolvido
pela melodia onírica
que revela
por segundo,
por hora,
por tempo
que não pode ser medido,
a textura
do teu peito
aberto,
desvelado,
nu,
no movimento da língua
que reconhece o desejo
na gênese do beijo
na ponta
do bico vermelho,
rosado,
plantado,
na pele branca tua.
São
beijos miúdos,
beijos vorazes,
aprendizes,
inquietos,
impacientes,
delicados,
ardentes,
carinhosos,
conduzidos
pelo tempo do teu coração,
da tua pulsação.
Pelo assopro do teu desejo,
pelo ritmo da tua cintura,
pelos caminhos renascidos
no encanto quente
da tua pele.
Esse aroma,
esse cheiro,
esse odor.
Esse jeito
logo abaixo
da linha da cintura.
Logo ali,
entre seus rins,
suas pernas,
que seus lábios têm
de se abrirem
como pétalas
para o carinho
doce,
suave,
úmido
e único
da minha língua.
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