quinta-feira, 21 de março de 2019

Seria prudente 
não pensar em ti 
agora que você deixou 
a porta meio aberta 
e me disse 
para desenhar a partida 
sem a meia volta. 

Seria uma providência 
não agitar a consciência 
com as pausas 
e reticências 
que habitam o intervalo 
entre uma palavra e outra
dita pela tua boca, 
escrita pelo encontro vivido 
no caminho 
entre um dedo e outro. 

Seria coerente 
nesse compromisso 
com o tempo presente 
não ter a alma 
e a carne dos lábios 
despertas 
pela tua imagem 
que me visita 
quando as pálpebras 
estão fechadas. 

Ou quando entardeço 
com os olhos encantados 
pela poesia que toca 
a esperança incongruente, 
impertinente, 
que permanece acesa 
dentro do meu coração. 

Seria assertivo 
não rever 
pontos e signos 
em busca de algum sentido 
submerso 
nas mensagens enviadas, 
compartilhadas, 
trocadas. 

Seria calmo, 
tranquilo, 
quase normal, 
não ser envolvido 
pela melodia onírica 
que revela 
por segundo, 
por hora, 
por tempo 
que não pode ser medido, 
a textura 
do teu peito 
aberto, 
desvelado, 
nu, 
no movimento da língua 
que reconhece o desejo 
na gênese do beijo 
na ponta 
do bico vermelho, 
rosado, 
plantado, 
na pele branca tua. 

São 
beijos miúdos, 
beijos vorazes, 
aprendizes, 
inquietos, 
impacientes, 
delicados, 
ardentes, 
carinhosos, 
conduzidos 
pelo tempo do teu coração, 
da tua pulsação. 

Pelo assopro do teu desejo, 
pelo ritmo da tua cintura, 
pelos caminhos renascidos 
no encanto quente 
da tua pele. 

Esse aroma, 
esse cheiro, 
esse odor. 

Esse jeito 
logo abaixo 
da linha da cintura. 

Logo ali, 
entre seus rins, 
suas pernas, 
que seus lábios têm 
de se abrirem 
como pétalas 
para o carinho 
doce, 
suave, 
úmido 
e único 
da minha língua. 

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