enquanto ela não vem,
escrevo poemas,
enquanto sonhos não se realizam,
escrevo poemas.
enquanto peço
ao meu coração
que fique tranquilo
e não tema o frio,
escrevo poemas.
procuro uma dobradura no tempo,
uma dimensão que reduza a pressa,
outra que amplie,
amplifique,
o instante em que
a poesia vem.
busco estender a curva
nos últimos minutos
que antecedem
a próxima hora
pra que dure mais
esse tempo
quando parece
que o tempo
não passa,
ou não tem pressa,
nem pede para acelerar.
quando abro a janela
a escuridão
já envolveu o céu,
me lembro da garota que falava
das estrelas
que brilham no céu
enquanto fumava
e bebia vinho
e o calor
da fogueira
que acendíamos
reluzia no seu rosto,
em suas pálpebras
quase fechadas,
no pequeno vermelho
que se abria
em seus olhos.
naquelas noites,
ela estava bem perto,
sentada a um palmo,
a um segundo,
ou a um passo,
de distância.
sua mão
podia se estender,
seus dedos
podiam se abrir,
a minha também,
meus dedos também.
aquele pequeno vão
entre mim e ela,
entre a minha pele
e a dela,
se abria pelas horas noturnas,
ou para quando não sabíamos
se era manhã,
alvorecer,
crepúsculo,
ou madrugada.
pareciam muitos miúdos fragmentos de tempo infinitos,
cada um deles habitado
pela vibração
que emanava
do toque,
que deixava rubro a carne do dedão,
nas cordas do violão.
evocava
a voz que não tinha,
a nota,
que não saberia
a pronuncia,
para a insurgência
dos versos
que transitavam a latência
de alguma possibilidade
de semente.
agora busco,
procuro,
quem sabe,
ou poderá saber,
que ao final
desta página,
que naquele canto lateral,
logo ali,
bem abaixo,
no ponto que termina
ao pé
da nota
de rodapé,
existe um verso.
basta virar o lado
da folha branca
com letras batidas,
pretas e pequenas,
para conhecer
o outro lado
que convida um verso,
enquanto espero,
enquanto sonho,
enquanto não chega o sono,
enquanto pareço vivo,
enquanto minhas mãos
quando tocam o meu peito
parecem sentir alguma coisa
que chamo de coração,
mas não sei
se é meu,
se é da garota
que mora
nas minhas lembranças,
se pertence aos ruídos
que emanam dos carros
que passam pelas ruas
e atravessam esquinas,
se é de alguém,
se é de ninguém,
se é que existe,
se adormeço
confiante
que ele esteja vivo,
que continue a bater
palavra
por palavra,
poemas
que sonho escrever.
sexta-feira, 6 de dezembro de 2019
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