terça-feira, 16 de novembro de 2021

 qual é

esse lugar

que posso chamar 

de meu?


onde está

aquele momento

que posso dizer 

que vivo?


quem são

essas pessoas 

que me habitam?


de quem são 

esses olhos 

que me revelam?


aonde está

o reflexo 

que morava 

naquele espelho?


na superfície

do vidro 

não é a minha face

é a sujeira 

que transparece. 


nada se parece, 

nada se parece, 

nada igual. 


tudo aparece 

depois 

de alguma coisa 

que vem depois 

de outra coisa. 


o nada 

não se revela,

nem reflete. 


o vazio 

é quando 

não se parece 

nem é alma

que se revela?


agora 

todos os olhos 

e caras 

e bocas 

nasceram 

dentro de mim. 


na poeira

que se espalha, 

se esparrama

pelo asfalto. 


e na paisagem 

de pedra 

e concreto 

vejo minha alma 

perdida. 


ela se lança, 

viaja. 


já não encontra 

meus olhos. 


já não é. 


está 

nas feridas

e na boca 

e na carne

dos lábios 

e no pelo 

que arrepia. 


já se parece 

menos comigo, 


com a casca

carcaça cutânea 

que emerge 

no vidro sujo 

do espelho partido. 


e mais 

com alguma coisa 

que chamo 

de pessoa. 


que chamo 

de outra 

e que está 

há tanto tempo 

nesse lugar 

que chamo 

de dentro 

ou de essência. 


que vivo,

que me habita, 

que me lança, 

que me atira, 

me joga


e me abraça, 

me acolhe, 

de volta 

nesse pensamento 

que brota 

na manhã fria 

e se esparrama 

pelo papel:


- qual é 

esse lugar 

que posso chamar

de meu?


- onde está 

aquele momento 

que posso dizer 

que vivo?


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