qual é
esse lugar
que posso chamar
de meu?
onde está
aquele momento
que posso dizer
que vivo?
quem são
essas pessoas
que me habitam?
de quem são
esses olhos
que me revelam?
aonde está
o reflexo
que morava
naquele espelho?
na superfície
do vidro
não é a minha face
é a sujeira
que transparece.
nada se parece,
nada se parece,
nada igual.
tudo aparece
depois
de alguma coisa
que vem depois
de outra coisa.
o nada
não se revela,
nem reflete.
o vazio
é quando
não se parece
nem é alma
que se revela?
agora
todos os olhos
e caras
e bocas
nasceram
dentro de mim.
na poeira
que se espalha,
se esparrama
pelo asfalto.
e na paisagem
de pedra
e concreto
vejo minha alma
perdida.
ela se lança,
viaja.
já não encontra
meus olhos.
já não é.
está
nas feridas
e na boca
e na carne
dos lábios
e no pelo
que arrepia.
já se parece
menos comigo,
com a casca
carcaça cutânea
que emerge
no vidro sujo
do espelho partido.
e mais
com alguma coisa
que chamo
de pessoa.
que chamo
de outra
e que está
há tanto tempo
nesse lugar
que chamo
de dentro
ou de essência.
que vivo,
que me habita,
que me lança,
que me atira,
me joga
e me abraça,
me acolhe,
de volta
nesse pensamento
que brota
na manhã fria
e se esparrama
pelo papel:
- qual é
esse lugar
que posso chamar
de meu?
- onde está
aquele momento
que posso dizer
que vivo?
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