terça-feira, 16 de novembro de 2021

 quando fui 

até o abismo

e voltei. 


quando descobri

você. 


quando não saber

como sentir. 


quando a memória

perde o sentido 

de ser história. 


para quem

vou contar

a beleza 

que sonhei conhecer 

um dia?


à espera 

de quem 

vou contar 

cada segundo 

cada passo dado 

até colocar 

a chave na porta?


qual esperança 

alimentar 

quando se descobre 

que já se tem 

idade pra morrer?


a morte 

não tem 

momento certo 

ou errado 

para acontecer. 


se existe vida 

depois dela 

eu não sei.


sei que a vida antes

da morte acontecer

merece 

todo nosso cuidado,

carinho, 

afeto 

e atenção. 


merece

cada momento 

da gente 

por inteiro. 


uma semente germinada 

no lugar 

de cada parte, 

ou pedaço

esquecido

em um porto, 

em uma esquina, 

em algum instante

da viagem. 


um ouvido aberto 

para o som 

que a pele faz 

no meio 

do silêncio 

e dentro 

da escuridão. 


e esse som 

que vem 

de dentro 

é tudo 

que não sei,


ou já

nem lembro o nome 

e que me envolve 

e que me leva 

e me coloca de pé,


mesmo quando 

o dia mais quente 

e claro 

parece começar 

tão sombrio. 


abro as cortinas

e a janela da cozinha

e deixo que o cheiro 

e o sabor 

preto e amargo 

do café

me desperte 

e me alcance. 


isso é tudo 

que posso fazer 

pela manhã

 

enquanto a escuridão 

se dissipa

 

e busco recordar 

que cada dia 

necessita

ser vivido. 


nem um dia 

a menos 

todos os dias

a mais.


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