quando fui
até o abismo
e voltei.
quando descobri
você.
quando não saber
como sentir.
quando a memória
perde o sentido
de ser história.
para quem
vou contar
a beleza
que sonhei conhecer
um dia?
à espera
de quem
vou contar
cada segundo
cada passo dado
até colocar
a chave na porta?
qual esperança
alimentar
quando se descobre
que já se tem
idade pra morrer?
a morte
não tem
momento certo
ou errado
para acontecer.
se existe vida
depois dela
eu não sei.
sei que a vida antes
da morte acontecer
merece
todo nosso cuidado,
carinho,
afeto
e atenção.
merece
cada momento
da gente
por inteiro.
uma semente germinada
no lugar
de cada parte,
ou pedaço
esquecido
em um porto,
em uma esquina,
em algum instante
da viagem.
um ouvido aberto
para o som
que a pele faz
no meio
do silêncio
e dentro
da escuridão.
e esse som
que vem
de dentro
é tudo
que não sei,
ou já
nem lembro o nome
e que me envolve
e que me leva
e me coloca de pé,
mesmo quando
o dia mais quente
e claro
parece começar
tão sombrio.
abro as cortinas
e a janela da cozinha
e deixo que o cheiro
e o sabor
preto e amargo
do café
me desperte
e me alcance.
isso é tudo
que posso fazer
pela manhã
enquanto a escuridão
se dissipa
e busco recordar
que cada dia
necessita
ser vivido.
nem um dia
a menos
todos os dias
a mais.
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