por que estou
fazendo isso
comigo
novamente?
por que
mais uma vez
estou me ferindo?
e nessa hora
da noite
muitas horas antes
do sol
anunciar sua chegada
cada batida
do meu coração
dói.
eu não posso
contar
quantas vezes
o meu sangue
é impulsionado
para que
meus braços
e minhas pernas
tenham força
para me levar
adiante.
às vezes
não posso
contar comigo.
não perco a conta
de cada dia
que passa
como se fosse
o mesmo dia.
não perco a conta...
...esperando quanto tempo mais
até que alguma mudança
me alcance.
até que eu
possa partir
em uma nova
viagem.
até que alguém
entenda a mensagem.
até que alguém
me diga
que também sente
aquilo
que a vista
não alcança.
o que está
desfocado
ou então
em segundo plano.
acho
que já perdi
o ângulo
desse plano
e do próximo
enquadramento.
acho
que as dimensões
daquela moldura
e daquela ideia
já me abandonaram.
e não sei
o que fazer
comigo.
novamente
meus olhos
estão abertos
mas não estou acordado.
outra vez
eu acreditei
que o amor
poderia me alcançar
o que se perde
à vista.
e mais uma vez
o amor
não foi um ato
um gesto
ou uma coragem.
não é alma
agora sei
é miragem.
amar
me fere
me machuca
porque tudo
parece
tão pequeno
diante do amor
que sinto.
não há sorriso
saudade
musa
que sobreviva
à densidade
desse amor
que sinto.
eu não sei
se é amor
se esse é o nome
do que me lança
na tempestade
da força da vida
e anuncia
que é a morte
que se aproxima.
então volto a contar
cada hora
cais
longe do começo.
cada hora
do fim do mundo.
e é sempre
sem fim
sempre assim.
aniversários
natal
ano novo
velório
e nascimento.
não tem fim.
não é o mesmo
que sentir
até o infinito.
vai para a soma
para o fundo do pote
para dentro da gaveta
cada dia
em que pareço saber
que ainda estou vivo.
sei que a morte
virá cobrar
essa conta.
continuo a sentir
cada taxa
cada juro
até que
meu rosto
ou aquele rosto
seja só memória
seja só.
até que a memória
já não exista.
se perca
toda e qualquer
fisionomia.
e essa imagem
seja
uma vaga
abstração.
essa alma
perambule
se perca
no meio
de tantas outras
que vagam
pela noite
a cada segundo
em toda hora
e muitas horas antes
que o sol
anuncie
e resplandeça
sua chegada.
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