Que
a existência se acabe no meio da rua,
Lá,
onde a flor de Drummond nascerá,
Onde
é possível sentir o enjoo e a náusea;
Sim,
caríssimo poeta mineiro de Itabira,
Aqui,
no norte do Paraná,
No
interior do estado de São Paulo,
Ou
na fronteira com o Mato Grosso do Sul,
Estou
preso a minha classe;
Mesmo
o coração,
Com
todo o seu vermelho,
Hoje
pulsa na balada daquela canção,
Está
sintonizado com a antena da televisão,
Mergulha
na frequência da última estação de rádio;
Essa
onda que bate na minha pele,
Que
embala o corpo,
Tão
cedo abandona o estado onírico
Como
aquele presidente chileno suicidado em setembro de 73;
Agora
é o vermelho na camiseta,
A
barba insistente que encobre a cara,
A
boina que na cabeça molhada
Acena
uma bandeira Guevara,
É
o Kit revolucionário que não abala a estrutura;
A
poesia permanece tecida sobre o balcão
Com
o sabor amargo do café que digere o estômago,
E
da cerveja gelada que nos encaminha
Para
o lençol camuflante desta madrugada;
Será
a pele, nua, que na gota de suor encontra oceano,
Será
aquela palavra dura que traga realidade
E
suspira doce no ouvido
A
ilusão futurista de mais uma saudade;
Já
não é sangue em nossas veias
Que
nos encaminha para o próximo vagão do futuro,
É
a cachaça, a cocaína e a cafeína
Que
expressam para nós a possibilidade de ânima;
É
a alma corroída
Que
cegou sob a luz divina
E
flertou com o rio que atravessou o inferno,
Abalada,
jazz o blues,
Amanhece
com Cartola em seu colchão furado,
Erosivo,
Que
esculpe versos onde a existência
Da
marcha samba de escola
Já
não pode penetrar;
Haverá
entre os dentes desta engrenagem
Arestas
para as serestas,
Sonhos
moídos, triturados, que renascem nos poros do pandeiro,
Na
vibração das cordas do violão;
É
couro,
É
madeira,
É
a gaita que acentua a solitária caminhada,
É
choro;
Salve
Ernesto,
Salve
Pixinguinha,
Raul
Castro Gabriel Seixas,
Salve-se
quem puder,
Que
a vida é cheia de andanças desatinadas;
O
farol amarelou,
O
sinal abriu,
Abre
alas na malha rodoviária,
Espalha-se
no tráfego,
Atravessou
o vidro, retrovisor;
O
sinal emerge do mormaço do telhado,
Não
das tendências da lua nas ondulações marítimas,
O
acidente é a confirmação
Que
quem nos leva não é o pulsar das veias,
Ou
a batida do coração,
É
o assalto da nossa existência
Que
anoitece neblina
E
arranca o nosso pulmão na direção do gol;
No
fundo da rede o brilho esgotado
Da
última trapaça,
Do
nosso tango;
Da
dança que dança os dedos
Nessa trama cotidiana.