quinta-feira, 25 de maio de 2017

Quero toda a gente
Amiga,
Guerreira,
Sincera,
Intensa,
Forte,
Da luta,
Com as asinhas
Do lado de fora,
Abertas,
Bem do lado de fora,
Para não temer a queda do arranha-céu.

Chega de tanta injustiça,
Um grito de basta,
Uma saída,
Uma vida,
Sem tamanha violência,
Sem opressão,
Sem repressão,
Sem tortura.

Porque há tanta beleza
Que não se explica,
Que não se classifica,
Que não se justifica,
Que é tanta humanidade.

Quero toda a gente,
Nossa gente,
Com as asas bem do lado de fora,
Porque o meu coração precisa
Da tua liberdade quente,
Incandescida,
Apaixonada;

Porque a gente precisa ser
Tudo aquilo que a gente sonha
Agora,
Já.

Porque preciso salvar
O que me restou da pele,
O que ainda é amor em mim,
Dos dentes cada vez mais afiados
Dessa engrenagem.

sábado, 13 de maio de 2017

Quantas vezes eles mentiram pra você?
Te enganaram,
Fingiram,
Algumas vezes apenas
Pelo prazer da dissimulação,
De te ver acreditar
Que é mais fraco,
Que é menos potente,
Que é somente um,
Tão só;

Mas você sabe o que eles querem,
Como chegar ao coração deles,
Eles não querem a lua,
Desejam o brilho dos holofotes,
Gelo,
Uísque,
O cheiro do sangue escorrendo,
Da ferida na carne,
Cortada,
Queimada,
Trabalhada,
Até que derreta na boca deles;

Você sabe o que eles querem,
Não é o doce sabor das tuas palavras,
Aquela piada que você nunca esqueceu,
As tuas lágrimas sinceras,
Direto do coração;

Você pode ver o ímpeto deles,
Pode sentir o sangue correr naquelas veias,
E o barulho das moedas,
E o dinheiro que troca de mãos,
E a fibra de coragem derramada no pote de ouro,
Contas,
Sonhos,
Números,
Senhas,
Portas de entrada;

E você vai ensinar aos teus filhos,
Vai transmitir esta herança adiante,
Avante,
E agora um sorriso
Quando olham para teus olhos,
E agora uma lua
Na sala de tua casa,
Gelo, uísque, uma lágrima sincera,
Força, potência, a verdade,
A que você desejar,
A que você quiser,
Qual puder passar adiante,
Avante,

E o sangue e o cheiro e a carne continuam,
Feridos,
Queimados,
Cortados,
Trabalhados,
Até que eles derretam na tua boca.
Na plataforma não há mais pessoas, 
Apenas um ruído de gente, 
Uma multidão de estrelas adormecidas,
De sonhos repartidos e naufragados;

Cercada de eletricidade e metal, 
A espécie humana nesse lugar
É como um manto que encobre o horizonte, 
Mantém o véu da neblina;

O dia rompeu a noite, 
Como naquela canção, 
E a luminosidade nos impede de ver, 
É preciso enxergar com as mãos
E elas estão frias;

Tateamos o nosso próprio abismo
E não conseguimos perceber, 
Nossos corações buscam o ninho seguro do silêncio, 
O mar de vozes é entorpecente, 
Não existe a fala,
Não há palavra, 
Apenas um fluxo breve interrompido
Por outro fluxo,
outro fluxo,
outro fluxo...

Para a pele só resta as amarras, 
Antes o músculo preso e calado
Do que as feridas do eminente contato, 
É preciso driblar a si próprio, 
Perseguir a existência, 
Não perder o último trem, 
Abraçar o destino;

A viagem é impiedosa, 
É preciso encontrar lugar,
Um vagão no meio da multidão, 
Isto ou ser atropelado,
Assim sentimos o movimento da história,
Mas não reconhecemos o desenlace da nossa própria história.
Amigos(as), 
Quero falar do lançamento do Gerson, 
da saída pela linha de fundo do Garrincha, 
do calcanhar, não o de Aquiles, 
mas o de Sócrates, 
aquele da democracia corinthiana.

Se me permitem,
não quero falar do futebol e seus cartolas imundos
que merecem, no mínimo, uma bala de canhão.
Pretendo lembrar as marcas dos sonhos que não conheceram a luz do sol.

Conheço amigos que utilizam as lentes de suas câmeras,
ou o fraseado do trompete,
para falar delas, 
as feridas e as asas, 
a saudade e a esperança;

Usarei essas palavras para falar 
que não há imperativo categórico, 
ou histórico, 
apenas os dentes, 
mais de trinta e dois, 
dessa engrenagem, 
que trituram e mastigam a epiderme, 
nossos corações.

Há o desespero que interrompe o silêncio numa chama de medo.

É sempre bom lembrar, como os mestres Guimarães e Belchior ensinaram, 
a vida é um negócio muito perigoso:
-"O que é que pode fazer um homem comum
neste presente instante
senão sangrar
tentar inaugurar a vida inteiramente livre e triunfante?"

A utopia é a nossa morada, 
mas não aquela que desconhece a neblina enraivecida
que nos envolve todos os dias.

É o lugar que iremos erguer com aquela pedra no meio do caminho.
É aquela felicidade que não pode ser engarrafada 
para camuflar o semblante da tristeza.

É aquela força, 
feita de mãos dadas, 
que nos emancipa.

É aquele amor
que nos leva para além do horizonte, 
não é feito de grades, 
não é feito de temor e insegurança.

Amigos(as), 
sonharei com os olhos abertos, 
porque não há loucura maior do que a lucidez.

Seguirei com as paredes rachadas e o coração trincado.

Não confio na estabilidade, 
na tristeza amena e justificável, 
em quem se esconde
em baixo de sua cama de ferro
com medo da solidão.

Não confio nas multidões e nos seus movimentos rodopiantes.
Confio nas individualidades trágicas, 
porque a nós só resta fazer o irrealizável, 
impulsionar a trincheira para além das possibilidades.


Que a existência se acabe no meio da rua,
Lá, onde a flor de Drummond nascerá,
Onde é possível sentir o enjoo e a náusea;

Sim, caríssimo poeta mineiro de Itabira,
Aqui, no norte do Paraná,
No interior do estado de São Paulo,
Ou na fronteira com o Mato Grosso do Sul,
Estou preso a minha classe;

Mesmo o coração,
Com todo o seu vermelho,
Hoje pulsa na balada daquela canção,
Está sintonizado com a antena da televisão,
Mergulha na frequência da última estação de rádio;

Essa onda que bate na minha pele,
Que embala o corpo,
Tão cedo abandona o estado onírico
Como aquele presidente chileno suicidado em setembro de 73;

Agora é o vermelho na camiseta,
A barba insistente que encobre a cara,
A boina que na cabeça molhada
Acena uma bandeira Guevara,
É o Kit revolucionário que não abala a estrutura;

A poesia permanece tecida sobre o balcão
Com o sabor amargo do café que digere o estômago,
E da cerveja gelada que nos encaminha
Para o lençol camuflante desta madrugada;

Será a pele, nua, que na gota de suor encontra oceano,
Será aquela palavra dura que traga realidade
E suspira doce no ouvido
A ilusão futurista de mais uma saudade;

Já não é sangue em nossas veias
Que nos encaminha para o próximo vagão do futuro,
É a cachaça, a cocaína e a cafeína
Que expressam para nós a possibilidade de ânima;

É a alma corroída
Que cegou sob a luz divina
E flertou com o rio que atravessou o inferno,
Abalada, jazz o blues,
Amanhece com Cartola em seu colchão furado,
Erosivo,
Que esculpe versos onde a existência
Da marcha samba de escola
Já não pode penetrar;

Haverá entre os dentes desta engrenagem
Arestas para as serestas,
Sonhos moídos, triturados, que renascem nos poros do pandeiro,
Na vibração das cordas do violão;

É couro,
É madeira,
É a gaita que acentua a solitária caminhada,
É choro;

Salve Ernesto,
Salve Pixinguinha,
Raul Castro Gabriel Seixas,
Salve-se quem puder,
Que a vida é cheia de andanças desatinadas;

O farol amarelou,
O sinal abriu,
Abre alas na malha rodoviária,
Espalha-se no tráfego,
Atravessou o vidro, retrovisor;

O sinal emerge do mormaço do telhado,
Não das tendências da lua nas ondulações marítimas,
O acidente é a confirmação
Que quem nos leva não é o pulsar das veias,
Ou a batida do coração,
É o assalto da nossa existência
Que anoitece neblina
E arranca o nosso pulmão na direção do gol;

No fundo da rede o brilho esgotado
Da última trapaça,
Do nosso tango;

Da dança que dança os dedos
Nessa trama cotidiana.
Macarrão instantâneo, 
Sabor instantâneo, 
Prazer instantâneo;

Trabalho cleptomaníaco,
Trabalho cleptomaníaco;

Agora, 
É já, 
Direto na veia, 
Prova de vida, 
Emergência;
Estamos vivos?
Estamos vivos?

Destino nação, 
- Labirinto, 
Cadê o futuro? 
O que me importa o passado?
Mais um presente, 
Outra pele, 
Outra canção, 
Será o mesmo, 
Coração?

Momento sentido, 
Consentido, 
Carinho úmido, 
Único ou vários;

Posso ver as asas do avião, 
Daqui de baixo, 
Pela janela, 
Você lembra dela?

Direto na veia, 
O que me importa o futuro? 
Cadê o passado? 
Presente vestígio, 
Destino nação,
Ou é o mesmo, 
Coração?

Macarrão instantâneo, 
Sabor instantâneo, 
Prazer instantâneo;

Trabalho cleptomaníaco, 
Trabalho cleptomaníaco.
O cidadão médio
Deseja que a média equacionada
Indique
Qual o caminho da tranquilidade,
A possibilidade da curva,
Ou a eminente tangência;

O cidadão médio teme
Que os pontos fora da curva
Sorriam,
Felizes,
Como bigatos,
Vermes,
Brotando em sua comida,
Destemperada,
Gelada;

O cidadão médio
Manteve em segredo
Que sonhou que aquela cineasta romêna
Invadiu a sala de sua casa,
Tomou de assalto
A tela de sua televisão
Numa tarde de domingo;

O cidadão médio
Não deixa que percebam
A sua mão trêmula,
Ou o medo epifânico
Que a pobreza,
Ou miséria,
Alcance a sua existência,
Ou seja esmagado
Pela riqueza absoluta;

O cidadão médio é uma ficção,
Um exercício de abstração,
Para que sejamos convencidos
Que não existe vida
Nas entranhas da multidão;

Para que nossos olhos permaneçam calados,
Conformados com a paisagem urbana,
O ritual cadavérico
De uma morte homeopática
Anunciada e aceita
Em toda hora,
Em cada dia,
Como a certeza da eminência
Da próxima estação
Ou temporada;

O cidadão médio é a confirmação
Que haverá trilhos para o próximo vagão,
Asfalto para as velocidades eletrizantes,
Para que cada indivíduo
Seja consumado pelo inevitável fluxo,
E a personalidade viva,
Inquieta,
A singularidade subversiva,
Pulsante,
Seres mutantes,
Sejam apagados da memória;

O cidadão médio é uma ficção
Que acordou assustada
Com a possibilidade da revolução
Que brilha dentro de cada epifania,
Que é mantida acesa
Entre o olho cansado
E o olhar atento,
Que não pode ser esquecida,
Ou apagada
Por esse metabolismo mercadológico,
Cotidiano,
Que devora vidas
E assopra fantasmas;

Há efeitos colaterais,
Vestígios,
Estranhezas imponderáveis,
Belezas que não podem ser tangenciadas,
Ímpetos que tomarão de assalto
A tela,
A televisão,
A média,
A equação,
A queda
E o cidadão,
Para lançar em perspectiva
Existência pulsante,
Inquieta,
Mutante,
Subversiva,
Nova


O país quebrou,
O país quebrou,
Crise na economia brasileira,
LER,
Tendinite,
Artrite,
Hérnia,
Depressão,
Síndrome de Burnot;

O país quebrou,
O país quebrou,
Crise na economia brasileira,
Rockeiro conservador,
Será que a lua não te encanta mais?
Dessa janela ela parece
Fera,
Bela;

O país quebrou,
O país quebrou,
Crise na economia brasileira,
Profeta dos novos tempos,
Nem tão inéditos assim,
Anuncia novo mandamento:
- para que tanto hospital,
Se a gente pode construir estádio de futebol;

Esse futebol sem bola,
Esse futebol sem bola;

Não te preocupa não,
Que os meninos do PCC
Já aprenderam a pescar o peixe,
Agora querem o anzol,
O barco,
E o rio;

O país quebrou,
O país quebrou,
Crise na economia brasileira,
Filósofo querido de séculos remotos,
O mesmo rio não se atravessa duas vezes,
Será?
Vê já tanta gente
Querendo realizar o caminho da volta;

O país quebrou,
O país quebrou,
Crise na economia brasileira,
Já dizia o antigo amigo,
Escola depósito de gente,
Será nova síndrome?

Humorista,
Pôser,
Pretendente a Jô Soares,
Comunicador engraçadinho
Da cultura de estupro;

Será nova síndrome?

O país quebrou,
O país quebrou,
Crise na economia brasileira,
Panaceia filosófica reacionária,
Tudo o que você precisa saber
Para se tornar um idiota;

Trabalho sem direito
Endireita pátria
Desunidos da América;

Para que servem as chuteiras,
Ou a pelota,
Se não é exceção nessa partida,
Dividida, 
E sim a regra,
Toda forma de violência 

 dentro da caixa  tem lápis de cor fora da caixa  existem cores  no céu na água do rio  na onda do mar  no arco-íris  no brilho  da íris  de...