sábado, 15 de setembro de 2018

vejo na sombra 
a claridade 
da tua pele, 

moldura que emerge 
do azul tardio:

- pressentimento 
que a noite avança, 
sentimento 
que o dia
é luz dispersiva 
entre as águas 

tocadas 
pela noite que avança, 

a noite dança, 
perambula, 
atravessa.

a noite dança

com o desejo 
que sinto 
da tua pele clara, 
morena, 

que não consigo arrancar 
do meu instante de sonho...

...a silhueta 
da tua beleza 
estampada 
no dia azul, 

blue...
de deixar a melancolia 
viver a despedida 
no beijo sincero 

na minha pele 
que cede 
ao desejo 
de beijar a pele tua
pela carne da boca, 

pela marca roxa
na ponta do dedo, 
perto da extremidade
da unha, 

pela caneta 
que derrama a tinta 
do sonho 
que me acena
teus olhos 
que me acenam

o prazer de abraçar 
a claridade tênue

na sombra, 
na penumbra, 
no meio da escuridão 
que me devora 

para que possa 
me encontrar 
em te encontrar 
no carinho 
do desejo vivo:

- tempo vivido.  
  

a humildade 
é uma virtude
desprezada
em tempos de
hostilidade
o tempo parado,
já passou o momento, 
quando era o instante
da volta do mundo
que passa pelo lado de cá, 
aqui dentro, 

quando a mão 
encontrava a si 
no próprio movimento 
e já não era deserto, 

já não era preciso 
conhecer o código, 
ou desvelar o mundo 
nos caminhos obtusos
entra a linha do instante gráfico 
e o verso sentido 
antes que dito. 

e o verso da cara, 
da pele, 
da lente, 

o outro lado 
que insistia
sobrevivente
em saber o instante 

quando a vida 
não é um passado
a ser decifrado.

quando a serpente 
e a medusa, 
e a cor da romã, 
e o sabor do ventre da manhã 
devoram o desejo 
já meio apagado, 
já tão pouca chama, 
já quase sem alma. 

quando entre as arestas 
vestígios de existência 
que encobrem a cor 
e a textura dos móveis
encontram a vida 
em seu momento 
tão pouco pêndulo, 
tanto móbile,

para que na alameda perdida 
entre o resto 
e as migalhas 
de quem um dia foi, 

encontre no verso
do papel amassado, 
rascunhado, 
o outro lado 

de ser quem é

Se somos o que fazemos 
E como fazemos, 

Somos, 
Também, 
Gols anulados, 
Cantos desafinados, 
Lembranças saudosas, 
Esperanças 
que não se sabe 
Onde desaguarão. 

Sabemos e, 
É claro, 
Esquecemos,..

...uma noite apenas, 
Especialíssima demais. 

Desfrutemos o néctar dos deuses, 
Possamos sacudir o penhasco 
Que apoia os nossos pés 
E garimpar muralhas 
Em busca de amor. 

O garimpo, 
Seja o florescimento da vida. 

Despertar com os olhos sujos de remela 
E capengas; 

Mas, 
Jamais, 
Intolerantes 
para o mergulho 
Que de tão encantador
Pode se tornar naufrágio. 

Encanta dor,
Cante, 
Sussurre, 
Sopre, 
Grite...
...que é vida!

Que somos de viver apaixonados 
Pela arte, 
Pelo cinema, 
Pelas musas,
Ah...pelo jazz!

Da poça de água que saltamos, 
Da nossa coragem 
que pareceu brava burrice, 
Do engano dos sinais, 
Das fecundas linhas de fuga 
E tão – prósperos – encontros:
- a hora mágica.
Já quando penso
em buscar a tradução
do sentimento
em alguma palavra perdida
entre a sujeira e a memória
entulhadas
na porta de entrada.

Já quando procuro
sentir a íris,
o olho que se abre e fecha,

e até entendo,
aceito,
a importância de conhecer a senha.

o teu sorriso
já não encontra o caminho do olho,
o rio que não desistiu
quando encontrou a encosta,
quando sentiu o choro
da pedra
e a força do entulho
de sujeira
e de memoria.

E quando rio
encontro rio,

liberto o riso
que quis brincar,
sonhar,
com a tua alegria,

enquanto me perdia
de não alcançar palavra...
...já não queria.

Já não dá mais
para deixar que essa noite
engula o dia

sem que a tua mão
que deslizava
pelo castanho dourado
que brilhava
nos fios encaracolados
do teu cabelo,

caminhos do teu desejo,

me sorria
a estrela que brilha
na carne vermelha,
rubra,

do teu coração.
no
parachoque 
de 
um caminhão

pela 
rodovia 
mineira:

TEM NOITE 
DEITO
E DURMO

TEM NOITE 
QUE NÃO
a história 
que me contam
não é minha.

a história 
que me conta:

- quanto tempo falta
para me encontrar...
de volta...
o destino?

a história 
que eu conto,
já perdi a conta
de tantas voltas dadas
para encontrar sentido.

a história que sinto, 
que me atravessa, 
mesmo sem saber 
qual é o significado.

já não se conta
a história perdida, 

apenas o conto 
da história querida.

a história memória, 
vivida, 
já conheço a outra volta 
dada 
na curva daquela esquina.

a história agora.

rua deserta.

próxima hora.

não espera.

a história já não memória, 
imagina.

a história não contada, 
inventa, 
viva. 

agora
criança,

olhos novos
encontram
outros lados
da coisa vivida
agora 
e todo dia:

- esperança escondida 
na curva da retina.


conspirações,
presidentes derrubados,
lógica absurda
e poderosa;

ira irracional e cíclica,
movimentos aspirais
da riqueza.

invólucros que ocultam
a gênese da pobreza.

e tudo isso
afeta menos,
ou tanto quanto,

o frio que beira
a curva do osso.

a estação
que é prelúdio.

o calor, o sol e a luz
em constante prorrogação.

e é preciso acreditar
que a primavera estava aqui,

quando sua mão estava
a um centímetro,
ou menos do que isso,
de agarrar a minha.

e que foi possível sentir
alma humana
na alegria expressa
em teus olhos.

porque havia naquele instante
qualquer coisa de incomunicável,

para além dos limites
que a visão permite perceber
e dos significados
que as palavras
buscam emoldurar.

nas palavras,
entre elas,
que pouco explicam,
muito cortejam,
permeiam,
como pedras impetuosas
que buscam
desafiar o destino
inevitável da gravidade,

tento a memória quente
que houve contato humano,
tato,
tanto,
gente,

quando suposta calmaria é destrinchada:
- abre alas para enunciação da ilusão
que é
outro lado,
outra cara,
outra face,
da verdade

que a tristeza real
é quando já não se percebe
a realidade da tristeza.

O teu olhar,
ave de rapina,
mira entre nuvens
o azul incandescente
que brota
na pele alheia.

Pousa teus dedos
nesta camada da vida
pintada,
tingida,
de cor de vinho
e framboesa.

É um jeito de dizer
que é possível conhecer
as cores
de atmosfera onírica.

Deixa eu mergulhar
no instante do teu desejo,
na liberdade tecida
pelo teu coração

agora
que a primavera
que vem
te aproxima
da vida futura
em prospectiva
na vida agora.

Pinta o cinza desbotado
na minha cara cansada
de todo dia
com o ímpeto
da cor potente,
anímica,
das tuas palavras
de carinho

e da tua saliva.

Encontra na curvatura
do passo torto
o convite que anuncia
que nessa música

a batida
e o ritmo
vêm de dentro,
vêm da gente,
vêm nascente:

- semente de oceano
e céu.

Gosto de mel,
céu da boca,

pluma,
pena,
pétala,
ponta

e todo encanto
de uma vida
pela outra

no horizonte
do compasso
da dança
do tempo futuro,

do tempo agora,
de tanto sonho,

tamanha esperança.
Agora,

só consigo lembrar
daquela poesia antiga,

em que alguém perguntava
qual é a idade
em que o juízo
nos alcança.

Acho que ainda chego atrasado,
ou será que é o relógio
que já não consegue acompanhar
o ritmo do nosso sonho?

Acho que já alcançamos
aquela idade,

em que a gente esquece
a porta aberta
novamente.

Depois a gente caminha
perdidos como migalhas,
sobras do café da manhã,
sopradas pelo vento,

tentando encontrar
em qual labirinto
está a chave
para o coração.

Talvez no canto
de um pássaro,
ou no assobio
de uma criança

parecido
com o ruído
parecido
com a cor
de minha alma.

Como se a cadência
de uma estrela
insinuasse o brilho
de cada hora noturna.

Como se o sol beijasse
cada trilho
e abraçasse
cada passo,

onde não há destino
a ser encontrado,

apenas um futuro
a ser construído,
vivido,
amado,

como se ama quem
encontra a si mesmo
quando ama.

pela fresta
da parede
branca e velha,

eis que a vida
inaugura
uma janela

quem é ela?

pergunta que me acorda
na noite acesa,
madrugada.

pergunta que me levanta
antes da manhã
inaugurar o dia
de todo dia.

que me antecede,
anseia,
segundo
por segundo,
o desejo
pela pele
dourada.

quem é ela?

castanha beleza,
que lança os olhos
cor de mel,

convida o sol
para brincar
com o coração,

mesmo quando a noite
transpira,
suspira,
os cantos da casa,
os cantos da solidão.

quem é ela?

minha mão perdida
pela fresta,
pela parede,
pela janela.

quero dizer
a ela
que quero
a poesia
castanha,
livre,
liberta,

como quem vive
o desejo
pela pele
dourada,

segundo
por segundo,

à noite,
de manhã,
de madrugada. 

 dentro da caixa  tem lápis de cor fora da caixa  existem cores  no céu na água do rio  na onda do mar  no arco-íris  no brilho  da íris  de...