terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Me deixa caber dentro do silêncio,
ser o fantasma das horas transpassadas,
o passo torto que não recua,
mesmo quando a vida insinua
a ilusão da linha reta.

Me deixa sentir a intensidade da vida,
mesmo quando não existe tesão
em viver a corrida,
mesmo quando a gente é seta
sem buscar atingir,
alcançar,
uma meta.

A gente é.

Me deixa ser
quando posso sentir,
quando posso viver,
quando posso ir,
mesmo sem saber
quando destino vou alcançar,

ou qual parte de mim
vai ficar
pelo caminho
já percorrido.

Me deixa ser o som
que vibra na corda do violão,
a vibração,
parece eco,
é distorção,
dissonância,
difusão,
propagação,
de todos os sentidos
vividos
no abismo
da solidão.

Me deixa permanecer pulsante
na textura da penumbra,
no instante antes

da vida em disparada.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Escuto a sua pele,
A angústia caminha pela sua perna,
Os seus pulsos pedem paz
E uma borboleta grita em seu peito.

Uma melodia desenha a si própria
Na sua forma de andar,
Passo por passo você revira a vida,
Traça a si mesma nos retalhos
E renasce dos estilhaços.

Todas as palavras que naufragam no seu manto
São notas novas que expandem um canto,
Anunciam o nascimento de um outro dia
Que seja a superação de nossa agonia,
Angústia,
Dessa insônia.

E talvez um dia possam ver
A menina que não deixou ser sufocada,

E talvez ela possa ser nova forma de beleza.

Entre as garras de felina
O toque de uma mulher,
Entre os olhos de gavião
Uma lágrima sincera

Ela sonha,
Ama,
Continua
A enfrentar a fúria intempestiva,
A força da correnteza.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Esse verso carrega meu dedo,
rasga a solidão.

Guardo
na transparência do segredo
de cada silêncio
remorso;

tempo sonhado,
não vivido,
amor guardado,
mal cuidado,
no papel amassado.

Chama pretérita
da pele ainda acesa
convida a saudade
para encontrar
um lugar
na mesa,

no lugar da comida
que não tá posta.

Acho que é o tempo
e a sua mania de lembrar
que há vida alheia,
que existe outro,
outra paixão.

Para além das paredes,
das memórias,
das fotografias,
do lençol marcado,
das estórias,
aquele beijo ainda molhado,

sopro do céu,
tempo aberto,
chuva caída,
coração umedecido.

Agora o silêncio
sem segredo,
tempo vivido,
sonho aceso,
coração entregue
sem medo. 
Reconheço a promessa quebrada,
mas toda profecia cantada,
mesmo que seja rimada,
anuncia a possibilidade de vida futura,

e não uma certeza.

Esse verso mal escrito
fala do tamanho
do universo incabível,

aquele
que mora dentro
do destino impreciso.
Notícias de um hermano argentino:
- Uma primavera humana se aproxima,
a frente fria se dissipa.

Desvanece.

Entre palavras lidas,
ou aquelas não encontradas,
nas margens desconhecidas,
é possível ter esperança.

É possível esperar que o dia amanheça com a mesma chama cultivada pela caminhada noturna.

Entre um sonho e outro, quero acreditar que o fogo não se apaga,
que aquela estrela que contempla
a nossa existência
pela janela aberta
é o brilho que prossegue aceso
dentro de cada coração.

A gente ainda pode viver a busca de cada batida na cintura alheia, ou de mãos dadas.

Vamos juntos, de mãos dadas, sonhava o poeta mineiro no interior de uma cidade pequena tão longe das capitais.

O poeta já morreu, apanho cada verso seu
tão vivo quanto sinto
o sonho cada vez tão pequeno.

Para cada avenida que encontra o passo dado quero a esperança de prosseguir de mãos dadas, com os braços bem abertos.

Porque quero, porque preciso sentir o abraço do vento,
o cheiro da chuva na tarde quente
e sem saída.

Porque com os braços bem abertos
sinto o carinho do teu sonho.

E agora é possível,
tudo é possível,
como a liberdade.

E você pode abandonar o seu corpo
na beira do abismo
e ser abraçada
pela superfície,
densidade,
profundidade,
oceânicas.

É a vida toda quem te aguarda
na beira,
na margem,
entrada para um novo continente:
- Recipiente de toda alma cantada,
entoada. Boca aberta para receber o teu grito,
o teu beijo lindo
que acena a liberdade
contida,
imprecisa,
esperança entre as grades.

Entre os grilhões desse tempo.

Entre pela labareda iluminada
- morada –
entre o vão tamanho chão
e o céu que beija a pele suada
com a tempestade
- correnteza –
que esse coração precisava.
seco:
cedo entardeço.

concedo um pouco 
para o que deixa de ser.

vivo, 
um caco, 
um retalho, 
um pedaço, 
o que não se pode ter.

sente, 
segue, 
não seca 
a fonte de viver, 
ainda não.

derrama um pouco 
do teu seio, 
muito da tua vida, 
na boca alheia.

seja na carne da boca, 
seja no céu da boca, 
a textura 
delicada e impetuosa 
das pétalas brancas, 
das pétalas vermelhas, 
amarelas

e o espinho plantado 
na pedra jogada 
no meio do caminho.

ferida viva, 
de tanto bater...coração.

tanta pulsação.

não seca 
a fonte de viver, 
ainda não.

ainda vivo, 
muito forte, 
o canto, 
a voz, 
a dor, 
o odor, 
o pranto, 
o amor, 
o gozo, 
a cintura,
o peito aberto, 
o riso, 
a lágrima, 
a alma, 
a noite, 
a amizade sincera, 
a paixão,

a poesia...
queria ler
na página já tecida,
escrita,
em um livro
com cheio de livro novo,
o movimento dos teus olhos

no momento
quando aconteceu a descoberta
da tua existência,

e quando o amor
parecia possível,

e quando a paixão
era tudo
o que tocava a alma
e,
também,
incontível.

acho que caminhava
em cima de algum lugar
que alguém chamava
de chão,

me parecia
- na planta da sola do pé –
que o solo
já não poderia conter
a inconsistência
da gravidade.

dessa gravidade de saber
que a gente também existe
para fora da gente.

era alegria que refletia
na tua retina,

era o coração
na tua mão

que segurava a minha.

e agora procuro
na névoa matutina
o mesmo embaraço
de tuas lágrimas perdidas.

será o mesmo sorriso
naquele filme reconhecido
que habitava o compasso
da nossa trajetória?

não sei se é sonho,
ou se é memória,
quando sinto ainda
teu corpo embalado,
embaraçado,
nos meus braços.

é o calor da noite que transpira
nesse abraço,

pudesse
na noite desse dia
alcançar a lua
grávida
e alucinada
de poesia.
De noite,
a calma;

dessa vez,
talvez,
o mundo não acaba.

o mundo é muito grande
para conhecer o fim.

a qual fim
a vida derramada sobre a mesa
atende?

até parece que a alma finda,
até parece,
mas ela não termina,

se,
entre as luzes
e suas tonalidades
despertas,
acesas,
a densidade do silencio acende
o sangue inflamado
nos punhos fechados;

nas palmas abertas inflama a ira,

no nervo contorcido,
talvez seja o compasso da angústia.

Baile de pérolas incendiárias,
músculos distorcidos. 

agarra a garra
do amor ainda sobrevivente,

o amor brilha de sonho,
atravessado pela noite,
que flutua calma.

deixa o silêncio pesar no sangue quente,
tecer a sua melodia
para que o grito
não seja o elo,
entre a voz
e a garganta,
arrebentado;

seja  amplitude,
amplificação,
da paixão que esteve derramada,
contida,
calada,

que contém o desejo
que beija a borda.

invólucro aberto,
todo o ar contaminado.

Calma,
deixa a vida passar,
sente o tempo
que não é dito
pela hora anunciada.

conheça o verso
que a textura branca
no papel semente
assoprou para o desejo.

a palavra que você conhece,
apenas,
a saliva,

ou a umidade grave
da calmaria noturna.

Isso foi quando
ela me conteve o passo
e disse:

- calma,
eu também,
às vezes,
quero ser lagoa.
onde alcançou a areia,
buscava o abraço marítimo.

na rede jogada,
pedras,
garrafas vazias.

você disse
que o mar estava pra peixe,
mas queria ter asas,

azul também há no céu.

daqui de baixo
só pressinto
a distância do teu olhar,

haverá larva vulcânica,
submersa,
na terra que me devora?

abalo sísmico,

solo,

navegar de volta para si
já não basta em si.

acho que era meu coração
jogado na rede,

teus dentes felinos
cravados na pele
dura,
escombrosa,
entrincheirada
em ecos
de ego e vaidade.

era gota resto de tua alegria
na boca da garrafa vazia,
cheia de tanta esperança
delirante
acho que é agora
que você não volta,

preciso abraçar novamente
o olhar que encontrava a dobra
no pequeno vão da porta,

que me sorria
o lado de fora
da memória,

imagem que não se dobrava
a meia volta
para o lado de dentro.

tudo agora parece
meio opaco
desse lado da porta.

apenas meio olho aberto,
só a feridade toca a retina,
acena a meia verdade.

de você
nem a metade,
ou a outra parte

que morava naquele beijo
colhido
no bico vermelho
plantado
no meio do teu seio
que devorava
a minha boca
inteira

 dentro da caixa  tem lápis de cor fora da caixa  existem cores  no céu na água do rio  na onda do mar  no arco-íris  no brilho  da íris  de...